MALAWI - UM EXERCICIO DE FÉ E DETERMINAÇÃO


Irmãos segue o depoimento do Pr. Eliel Gomes sobre o trabalho no Malawi -África. Parece um pouco extenso, mas vale dispensar uns minitinhos para ler, pois creio que você vai ser tocado por cada relato.


MALAWI E ÁREAS ADJACENTES 
UM EXERCÍCIO DE FÉ E DETERMINAÇÃO

 
A chegada no local do acampamento é sempre
uma festa para a igreja local, que nos esperava
com muita ansiedade


O exercício do ministério apostolar desde os primeiros tempos da Igreja implica em muitas renuncias, sacrificios e riscos pessoais.
Nestes quase 25 anos de trabalho no continente africano isso tem sido uma constante na minha vida. Com o passar dos anos, as forças diminuem e parece que as distancias ficam maiores, os caminhos mais difíceis e o trabalho em sí mais pesado.
Este ano, no mês de Julho, fomos mais uma vez ao Malawi para uma grande reunião com todos os pastores, evangelistas, presbíteros e diáconos, tanto do Malawi, como das áreas fronteiriças com Moçambique. Dessa forma, reunimos na área de N’Damera, que fica aproximadamente a 5km da fronteira, um grande número de obreiros e famílias. Foram três dias de inten-sas atividades, com ministrações em três períodos de cada dia.
Tinhamos planejado alugar uma casa na sede do distrito em N’Sanje, mas depois de levarmos quase uma hora para percor-rer apenas 12km e saber que ainda tinhamos mais de 25km a frente, vimos que seria inviável, pois gastariamos mais de 4hs todos os dias somente no ir e vir, sem contar que a Estrada está em péssimas condições, por isso decidimos acampar junto aos irmãos e apesar dos riscos, da insegurança, da falta de conforto, etc; vimos que assim seria melhor. A alegria de todos quando souberam de nossa decisão, nos confortou.
Para que você possa ter uma pequena idéia do que isso representa, vou te dar algumas explicações: O Malawi enfrenta uma gravíssima crise econômica, com mais de 50% da população desempregada, e recentemente com a morte do presidente, uma crise política eclodiu, aumentando em muito a insegurança, especialmente na região sudeste, que é onde ficamos acampados. Percorremos no primeiro dia quase 15km e não vimos um único policial, nenhuma guarnição militar, e com exceção do pessoal civil que atende na fronteira, nenhuma outra autoridade ou órgão official se via, o que me causou muita pre-ocupação, pois toda area de fronteira é sempre bem guardada. Não há um comércio regular, tipo mercados, padarias, etc...


Apenas uma vez por semana uma pequena feira tras da capital da provincia (Lilongwe) algo para que a população local possa se abastecer. A moeda local chamada Kwacha está desvalori-ada ao ponto de um real valer 150 kwachas. Tudo o que se precisa é pago com preço inflacionado pois como a produção local é ineficiente muita coisa vem de Moçambique. Fiquei extremamente sensibilizado com o grau de empobrecimento da popu-lação, nosso obreiros todos muito magrinhos, as crianças desnutridas, e pelas ruas, em qualquer lugar que chegàssemos, como viam pela cor da pele que èramos estrangeiros, nos cercavam e com as mãos estendidas diziam: “give me money” = “dá-me di-nheiro”; crianças e adolescentes em grande numero, velhos e velhas também. As meninas, na faixa de 12-14 anos (eu assim calculo) faziam a mesma coisa. E isso foi o que mais de trouxe dor, pois sem defesa, sem comida, sem nenhuma expectativa de socorro ou de melhora, elas são presas fáceis nas mãos dos lobos e lobas que negociam a vida delas e acabam nas mãos de feiticeiros, mercadores de vidas, etc. Nessa hora eu gostaria de ter muito dinheiro, para pelo menos dar a elas alguma coisa para comer. Nem em Moçambique, na guerra e no pós guerra eu vi tanta miséria como aquilo que testemunhei no Malawi.
Missionárias Roselina(Ir.Rosa) e Eunice Julai,
num momento de muita tensão quando fomos ao bazar
 para comprar alguns alimentos básicos. Outros ficaram
dentro do carro pois a insegurança é total.
Eu saia apenas o indispensável para comprar coisas essenciais, como gasolina para o nosso gerador e uma única vez em que fui a um bazar (feira livre), quase fomos atacados quando viram que tinhamos algum dinheiro. Isso é chocante e terrivel, eles não são maus, apenas estão no limite da razão, no limite do definir entre o certo e o errado, devido a extrema pobreza em que vivem. Tudo o que se compra tem de ser negociado exaustivamente, além disso eles tem de trazer o produto e colocar na tua bolsa, senão, pegam no teu dinheiro e desaparecem. Coisas simples e básicas como feijão e arroz são vendidas em copos, não há balanças. O sal e o açucar são vendidos em colheres. O óleo para cozinhar é vendido em sacos pequeníssimos, com 20ml. Precisamos ser mais agradecidos a Deus pelo lugar onde vive-mos, pela casa onde moramos, pelos móveis mesmo simples que possuimos e principalmente pela fartura e variedade de alimentos que dispomos todos os dias. Pela água limpa e tratada que sai nas torneiras, pelo banho quente, os lençois, camas, sofas, etc … porque nada disso eles tem no seu dia-a-dia.
E diante de tudo isso: O QUE PREGAR? COMO FALAR QUE DEUS É AMOR? Isso você vai saber no final desta reportagem.

Sei que há muitos lugares na terra onde as pessoas vivem situações semelhantes e quiçá piores que estas, mas somente posso falar daquilo que vivo e conheço. Orei em espírito dias e dias, perdi o sono muitas noites, literalmente “queimei as pestanas” e sabes o que é pior, descobri que tudo isso está acima das minhas forças. Quando iniciei a viagem eu tinha decido cortar a ajuda de pelo menos 23 pastores pois tenho uma folha com 106 obreiros e recebo ajuda apenas para 34, isso deixa um conta negativa de 72 pessoas que confiam em mim e contam que todos os meses, a pequena ajuda que lhes dou chegue no dia certo, pois do contrário não terão como comprar o milho e o peixe seco para se alimentarem. Estes últimos 3 anos tenho trabalhado exaustivamente, por conta do “stress” provocado pela ansiedade e pela sensação de ter os braços amarrados diante de tantas necessidades, eu tinha decidido cortar alguns obreiros, para tentar equilibrar receita e despesa. Mas diante do que eu vi, recuei e assumi comigo mesmo o compromisso de adotar somente no Malawi pelo menos 20 obreiros. Nada disse para ninguém, eu via nos olhos deles a interrogação: será que serei eu? Isso me mortificou em extremo e depois de 18 dias de uma viagem estressante, dificil, perigosa e cansativa, voltei para a cidade de Beira e depois para minha casa em Johannesburg com um peso ainda maior sobre os meus ombros.

Apenas 3 dias depois tive que ir para Luanda-Angola ministrar numa grande conferencia pro-incial com mais de 2000 obreiros e em seguida, no dia 31/07, viajei com minha esposa e minha filha para o Brasil, com o corpo muito combalido pela sucessão de viagens, e eu que sempre dormi muito bem, fiquei noites inteiras acordado, perdi a vontade de comer e fazia um esforço enorme para que ninguém notasse a luta que eu travava comigo mesmo por causa da de-cisão que tinha tomado. No início de Agosto, o nosso administrador em Moçambique me mandou uma men-sagem na qual ele cobrava uma posição, era para cor-tar ou pagariamos a todos como sempre? Eu lhe res-pondi: ainda não tenho uma decisão, dá-me mais um dia. No dia seguinte, pela madrugada, o Espírito Santo me acordou e me disse: MANDA PAGAR TODOS!!!
 
Imediatamente mandei para o Pr.Naissone Julai que acumula tambem a função de administrador da missão a seguinte mensagem: "paga todos sem excluir ninguém e avisa que até Novembro não haverá cortes, Deus vai prover nossas necessidades".
Naquela mesma noite, dia 03/08, minha filha Pra. Nadia, pregou no nosso congresso de missões na 1ª Igreja do Evangelho Quadrangular da Rio Claro (SP), uma pequena igreja e nessa noite deveria ter a volta de 200 pessoas mais ou menos. Confesso que já vi minha filha pregar algumas vezes, nós tinhamos um tema, ela é sempre muito centrada, mas curiosamente ela fugiu ao tema e pregou somente acerca do amor. Quando a reunião terminou, algumas pessoas vieram falar comigo, recebi palavras de ânimo, e algumas ofertas também, mas um moço que mora em outra cidade a mais de 60km distante dalí, o qual já conheço acerca de dois anos e que embora tenha contribuido com algumas boas ofertas em certas ocasiões, e seja bastante envolvido nos trabalhos da sua igreja, nunca tinha se interessado mais profundamente pelo nosso projeto missionário, veio falar comigo e disse-me: "pastor, nesta noite eu decidi adotar 50 crianças e 50 pastores, fiz um cheque e coloquei na salva para cobrir os custos deste mês, e todos os meses eu vou mandar uma oferta." Veja como Deus trabalha, Ele me mandou pagar todos, con-uziu aquele moço até aquela reunião, e providenciou através dele o suprimento que tanto precisávamos.

Tudo tem um preço, mas tomar a decisão na hora de Deus vai tornar possível aquilo que você acha im-possível. Com isso posso respirar um pouco mais aliviado, ainda preciso que alguém adote os 22 pastores que faltam, mas já estou dando outros passos de fé. Este mês vou iniciar o Operação Resgate na cidade de Beira com 50 crianças e até o inicio do ano que vem num dos bairros mais pobres da cidade, pretendo adotar pelo menos mais 50 crianças. Em Novembro, na grande reunião annual com todos os nossos obreiros, vou poder lhes dar a noticia que em vez cortar ajudas vamos poder adotar mais pastores especialmente no Malawi e na zona fronteiriça com Moçambique onde a pobreza é terrivel; com isso mais familias de obreiros terão o que comer e a obra de Deus vai poder avançar ainda mais.
Além disso, SEMADI, Secretaria de Missões da Assembleia de Deus em Imperatriz-(MA), na pessoa do seu coordenador, Missionário Ramos Paz, me comunicou que a partir do mês de Setembro eles estariam apoiando mais alguns obreiros no Malawi, hoje eles já apoiam 10 e este numero vai passar para 15, sei que em breve os outros 5 também serão adotados.


COMO PREGAR O EVANGELHO EM SITUAÇÕES EXTREMAS?
COMO FALAR DO AMOR DE DEUS PARA QUEM VIVE NO MAIOR SOFRIMENTO?
Estas duas questões foram colocadas anteriormente no inicio desta edição e me comprometi em responde-las.
Só existe uma maneira eficiente de comunicar a Palavra de Deus para pessoas que vivem em situações extremas, é acompanhar a ministração com ações que de alguma forma evidenciem o amor de Deus para com elas. Talvez por isso é que nesses lugares não vemos nenhuma dessas igrejas prodigiosas, milagrentas e vendedoras de favores divinos, pois o povo que lá vive nada tem para dar a não ser uma alma faminta da Palavra de Deus. De todos esses ministérios meteóricos que conhecemos ao redor do mundo e agora no Brasil, NENHUM existe nos lugares por onde passamos. Os milhões que eles arrecadam estão bradando desde a terra contra eles mesmos, pois fecharam seus ouvidos ao clamor dos pobres. Sou 100% a favor do equilibrio na finanças, e de uma boa administração de tudo aquilo que Deus tem posto em nossas mãos, assim como sou 100% contra aqueles que veem a Igreja apenas como um trampolim para o sucesso pessoal e uma fonte de lucros. Esta foi uma edição diferente; poucas fotos e muitas palavras, que soam como um desabafo e ao mesmo tempo como um desafio para todos os que são fiéis e sinceros e querem fazer algo pelo trabalho do Senhor. Deus abençoe a todos vocês.

O Pastor Joel Tavares ( A.D. Osasco—[SP], representando a URGEM, que é a agencia missionária daquela igreja, na chegada em Mecke-Malawi.











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